30/09/10

A dor das crianças não mente: Reedição

Prefácio à edição revista
Oito longos anos mediaram entre a denúncia de abusos sexuais na Casa Pia de Lisboa e a condenação em julgamento de seis arguidos. Durante esse período, as vítimas, crianças indefesas e, na generalidade, sem família - e todos quantos ousaram posicionar-se a seu lado - foram perseguidas de forma sistemática e cruel. As pessoas que durante esse período me abordaram, sempre com palavras de amparo, reiteravam, incrédulas na Justiça, o aviso: “Isto não dá em nada e no final, você e os miúdos é que vão acabar presos”.

No dia aprazado para a leitura do acórdão, ao entrar na sala de audiências, não pude deixar de pensar nessas advertências. E se tanto sofrimento, o das vítimas e o das pessoas que nunca as abandonaram, tivesse sido em vão? Sentada a meu lado, Catalina Pestana, a mãe afectuosa de tantos casapianos órfãos de tudo, persistia serena, confiante.

Depois, os rapazes entraram. E com a coragem e resistência dos que falam verdade, ocuparam os seus lugares de assistentes no processo. Quanta dignidade: não obstante saberem que na mesma sala estariam os arguidos que acusam de maus-tratos pavorosos, persistiram tranquilamente no anseio de justiça! E não soçobraram quando, revelando o horror, o colectivo de juízes deu início à descrição dos factos por que vinham pronunciados os arguidos.

Gradualmente, fui percebendo o sentido do acórdão. Afinal, ameaças, agressões, campanhas desenvolvidas por gente sem escrúpulos, forças colossais colocadas ao serviço da descredibilização das vítimas e da investigação, tinham resultado infrutíferas ante o juízo exigente e honrado de três magistrados. Em consequência, os arguidos foram condenados a penas de prisão efectiva cuja soma ascende a 50 anos e sete meses: Carlos Silvino, 18 anos, Carlos Cruz e Ferreira Diniz, 7 anos cada, Jorge Ritto, 6 anos e 8 meses, Hugo Marçal 6 anos e 2 meses, Manuel Abrantes 5 anos e 9 meses.

Se em Portugal se soubesse que os abusadores sexuais, predadores incansáveis, pensam a cada instante em como vitimar crianças, os condenados deveriam ter recolhido imediatamente à prisão. Infelizmente, aproveitando o laxismo e o excesso de garantias que as nossas leis lhes oferecem, retomaram, em coro síncrono, os mesmos argumentos falaciosos que ao longo de todo o processo tinham arremessado contra as vítimas.

Valeu tudo, até afirmações irresponsáveis de que Portugal estava ainda pior do que no tempo dos tribunais plenários. Ora, a verdade é bem diferente: os arguidos foram indiciados, acusados, pronunciados e condenados por magistrados diferentes. Ao longo do processo puderam exercer todas as garantias de defesa que a constituição e a lei lhes atribuem.

O espectáculo aviltante que condenados por crimes gravíssimos contra crianças proporcionaram ao país, com a anuência cúmplice de parte considerável da nossa imprensa e das já conhecidas consciências de aluguer, ficará para sempre como elucidativa demonstração de que são capazes de tudo. E exige, aos que se opõem à barbárie, o dever de perseverarem na defesa dos ofendidos. É com essa intenção que agora se reedita este livro, correspondendo a um convite de Zita Seabra, cuja activa e constante solidariedade para com as vítimas quero realçar.


José Pedro Namora

Reacções a anúncio de medidas de austeridade

Eu não sou de proferir palavrões, mesmo quando estou irada (peso da educação, penso eu, ou timidez) mas ao ler isto, ocorreram-me todos os possíveis, que possam imaginar !!!!!

Almeida Santos diz que sacrifícios pedidos “não são incomportáveis”
29.09.2010 - 21:10 Por Maria Lopes


"O presidente do PS considerou hoje que o esforço pedido hoje pelo Executivo com novas medidas de austeridade “não são sacrifícios incomportáveis” e que “o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”.
Questionado pelos jornalistas à entrada da sede do PS, onde vão decorrer esta noite reuniões do Secretariado Nacional e da Comissão Política, convocadas por José Sócrates, Almeida Santos recusou comentar o tempo que o Governo demorou a tomar tais decisões, dizendo que o Executivo “tentou tomar em conta a possibilidade de não serem necessárias”.O histórico socialista lembrou que “esta crise só tem paralelo nos anos 20 do século passado” e reconheceu que “são medidas impopularíssimas”, mas que deverão chegar para “afastar o FMI”. “Não é qualquer Governo que toma medidas como estas e está disponível para sofrer as consequências”, vincou, afirmando porém que “o povo tem que sofrer as crises como o Governo as sofre”.“Eu não gosto do FMI, devo dizê-lo. Mas o FMI já nos salvou duas vezes no passado, não é assim um problema de uma gravidade excepcional [o FMI intervir]”, realçou o presidente do PS, acrescentando: “Se precisarmos que o FMI nos salve, talvez essa seja de facto a nossa salvação. Mas não sejamos tão pessimistas!”Para Almeida Santos “é evidente que a bola agora está no lado da oposição”, e avisou que “não se pede ao PSD que seja co-responsável. Pede-se que por razões patrióticas aprove o orçamento”. Afirmando que “a despesa não tem grande margem de manobra”, deixou um repto: “Dizem que se corte na despesa, mas não dizem onde. Se isto não chega, digam onde.”

Porque não me ocorre música MAIS ACTUAL que esta:

26/09/10

SONETO DA CARTA



Amor, que a vida em morte em mim convertes,
espero em vão tua palavra escrita
e, flor a se murchar, meu ser medita
que se vivo sem mim quero perder-te.

É infinito o ar. A pedra inerte
nada sabe da sombra e não a evita.
Íntimo, o coração não necessita
do congelado mel que a lua verte.

Por ti rasguei as veias às dezenas,
tigre e pomba, cobrindo-te a cintura
com luta de mordiscos e açucenas.

Tuas palavras encham-me a loucura
ou deixa-me viver minha serena
e infinda noite da alma, escura, escura.


Frederico Garcia Lorca , um poeta que foi assassinado porque era considerado "mais perigoso com a sua caneta do que outros com revólver."

24/09/10

La Féria não paga há meses a actores

Eis uma situação que envergonha o TEATRO em Portugal, e que devia ser um verdadeiro embaraço para os seus responsáveis. Ao invés, as compras de infraestruturas continuam, os dinheiros públicos continuam a surgir como por encanto, no meio da crise, mas os salários de quem trabalha estão "sacrificados" há meses. Com este indivíduo, sabe-se, porém, que os direitos elementares dos trabalhadores e bons-tratos humanos nunca constituiram sequer alguma preocupação ou cuidado... :

Por Marta Neves in JN , 24 de Setembro :

O PCP denunciou, ontem, quinta-feira, que a empresa "Todos ao Palco", que gere o Rivoli, "tem vários meses de honorários de actores e técnicos em atraso". O vereador Rui Sá já questionou, por carta, o presidente da Câmara do Porto sobre o pagamento pela ocupação da sala.

"O que se passa com a empresa a quem a coligação PSD/CDS entregou o Rivoli Teatro Municipal?" - este é o título de um requerimento, enviado, pelo Partido Comunista, ao presidente da Câmara do Porto e ao Ministério do Trabalho.

No documento, pedem-se informações sobre o cumprimento dos pagamentos ao Município pela ocupação do Rivoli Teatro Municipal pela empresa "Todos ao Palco", dirigida pelo encenador Filipe La Féria.

De acordo com informações a que o PCP teve acesso, a empresa "tem vários meses de honorários em atraso aos actores e técnicos que têm vindo a assegurar as peças apresentadas", uma equipa de cerca de 50 pessoas "em regime de recibos verdes".

"Para além desta inadmissível situação de honorários em atraso, ainda por cima numa empresa altamente financiada pelo Município do Porto, também se constata que desde Julho não são apresentados espectáculos na sala grande do Rivoli", aponta o Partido Comunista.

Por isso mesmo, o PCP admite que "a empresa 'Todos ao Palco' não esteja também a pagar à Câmara do Porto as verbas correspondentes a cerca de 5% da receita de bilheteira a que estava obrigada".

No comunicado enviado às redacções, o Partido Comunista dá a conhecer a possibilidade de "estrear uma nova peça no Rivoli apenas em Dezembro - ou seja pelo menos serão quatro os meses sem espectáculos na sala grande do Rivoli Teatro Municipal -, o que contraria o espírito do contrato de comodato estabelecido com o Município".

Para Rui Sá, vereador na Câmara do Porto, e para Jorge Machado e Honório Novo, deputados na Assembleia da República, esta situação representa, "mais uma vez, a política de dois pesos e duas medidas", sublinhando que "os moradores dos bairros sociais que se atrasam no pagamento das rendas são logo despejados".

O JN tentou, sem êxito, obter esclarecimentos da empresa "Todos ao Palco" e da Câmara do Porto.

21/09/10

Este Inferno de Amar

*
Este Inferno de Amar
Este inferno de amar - como eu amo!-
Quem mo pôs n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói-
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há de ela apagar?

Eu não sei, não me lembro: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serana a dormi!
Oh! que doce era aquele sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembro que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez? eu que fiz? - Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

Almeida Garret *

16/09/10

Outra amizade improvável


Neste vídeo, outra amizade improvável, entre um suposto (e natural) predador e um pombo cego!

Amizade improvável


Este vídeo ilustra uma amizade improvável entre um Pitt Bull e um gato. Assiste-se a momentos de ternura entre os dois, e à bonomia paciente do cão.
A este propósito, o da perigosidade de determinadas raças de cães, é de referir que são fundamentadas em apuramentos e legados genéticos inerentes às mesmas, e este factor determinante não pode ser descurado, é verdade.
Porém, o comportamento (e o temperamento) são também determinados por outros componentes equacionais, como o é a influência ambiental ou do meio circundante. Isto traduz-se (e muito!), por exemplo, pelo factor EDUCAÇÃO ( e eu acrescento, aliado a muito , muito AFECTO nosso). Afinal é o Homem que os incita a comportamentos agressivos, quando por exemplo os instrui em lutas entre pares, ou mesmo os treina para predar e matar.

Posto isto, é mais que possível convivermos harmoniosa e pacificamente com estas raças, e estes animais, não raras vezes, são dotados de uma docilidade extrema para connosco e até para "inimigos e rivais naturais".

FACE A FACE


Entendamo nos:
falar de ti e dos teus olhos de garça enevoados
seria talvez tão vulgar como enumerar as coisas simples e nisso
não há qualquer desafio
Existe apenas uma razão íntima como a de quem
não gosta de se repetir ou de estar de costas voltadas para o mar
amando o imprevisto como um sinal de alarme

Também falar de mim poderia tornar se perigoso
se me virasse para dentro habitando a minha memória e não
a memória de todos os meus dias habitando a minha memória e não
A memória de todos os meus dias: Fariseu único
de um Templo de Escadas Rolantes
quando vejo mudar a água em sangue
e arregaçar as mangas para transformar uma seara em pão
não deixando ao diabo esse trabalho de
mostrar que a realidade não é o que é
mas sempre o outro lado da indiferença

E bato as esquinas levando a pederneira
com que se acendem os poemas que alimentam as primeiras esperanças
atravessando nas passagens de peões com a precaução da caça perseguida
e a preocupação de me dar
desinventando mágoas repartindo alegrias
como quem escreve um tratado de amizade
num país de vidro onde a dor está mais escondida
que os ovos da codorniz no coraçção da erva

Joaquim Pessoa*

13/09/10

Eu sei, não te conheço mas existes


Eu sei, não te conheço mas existes.
por isso os deuses não existem,
a solidão não existe
e apenas me dói a tua ausência
como uma fogueira
ou um grito.

(...)

Eu sei, não digas, deixa-me inventar-te.
ao é um sonho, juro, são apenas as minhas mãos
sobre a tua nudez
como uma sombra no deserto.
É apenas este rio que me percorre há muito e desagua em ti,
Porque tu és o mar que acolhe os meus destroços.
É apenas uma tristeza inadiável, uma outra maneira de habitares
Em todas as palavras do meu canto.

Tenho construído o teu nome com todas as coisas.
tenho feito amor de muitas maneiras,
docemente,
lentamente
desesperadamente
à tua procura, sempre á tua procura
até me dar conta que estás em mim,
que em mim devo procurar-te,
e tu apenas existes porque eu existo
e eu não estou só contigo
mas é contigo que eu quero ficar só
porque é a ti,
a ti que eu amo.

Joaquim Pessoa

Saudade


O teu aniversário era sempre uma grande festa. Toda a família rumava a tua casa, onde , invariavelmente, te esperava uma prenda grandiosa, que aquela que te amou congeminava meses a fio e que, não raras vezes, se endividava para ta ofertar. Lembro-me, tão menina ainda, de passar uma tarde deste dia hipnotizada por um televisor a cores, único nos quarteirões circundantes, que nesse dia coroara o teu aniversário. A tua vaidade, porém , era discreta, mas o teu contentamento não. Esboçavas tenuemente um sorriso franco, encoberto pelo bigode, mas os teus olhos acusavam-te sempre. Eras grato. Como a avó. E tão bonito!
Sem to ter dito,eu gostava tanto de ti! Não falávamos muito quando nos juntávamos, mesmo quando me sentava ao teu lado, na mesa, e a teu pedido. Mas é certo, que ao fim daquele tempo, tinha partilhado mais contigo do que um qualquer discurso o faria. Tinhas-me afecto, sabia-o. Sobretudo sentia-o ao pé de ti.
E só quando partiste, abruptamente, percebi porque é que eu gostava tanto de ti: "Quando eras bébé, o tio, assim que chegava a casa,perguntava por ti e ia ver-te, embevecido. À noite, se choravas, levantava-se para te ir buscar."
Não tenho memória do teu colo, mas a ternura com que me olhavas embalou-me em tantos momentos partilhados. E gravou-se-me tão fundo, que a tua ausência se fez notar muito mais.
Não descuravas o meu aniversário, era bonita a tua lembrança: " O tio lembrava-se sempre de ti!". E era bom ouvir-te, o teu sorriso dócil sentia-se, mesmo quando falávamos de longe.
Naquela manhã, acordei incomodada e quando desliguei o telefone ao teu filho (tão igual a ti, ele, nem imaginas!) senti-me incapaz de prosseguir o meu dia... Ainda hoje não sei porquê, mas pressenti-te a partida, e as lágrimas, em desespero, impediam-me a nitidez da voz para dizer à tua irmã que estavas muito doente. Foi o dia mais amargo da minha vida... O dia em que corri, absurdamente, pelos corredores de um hospital para chegar a ti, a tempo de te dizer adeus.

Carrego além da saudade imensa que tenho de ti, a dor daquela que tanto te amou... Passaram cinco anos e quando a abraço, é como se te estreitasse também a ti. As suas lágrimas inconformadas ainda gritam por ti. " A cada dia tenho mais saudades do teu tio...- diz-me" e eu, impotente, pesada de tanto pesar, sou incapaz de me pronunciar face à grandeza deste amor.

Parabéns tio!, estejas onde estiveres..

SAUDADE!

:(

06/09/10

Um ano!


Começou ao acaso, sem planificações ou objectivos, que não fossem lúdicos ou expositivos de poemas que ia lendo e relembrando... Mas por não ter sido incumbido de nenhum fim, foi-se expressando de tantas formas, assumindo o corpo meramente transcritivo do que vou vivenciando e sentindo.
Redobrado este ano, ainda não se assume com algum fim ou propósito. E assim continuará, espero, que por muito mais tempo ainda.
Os blogues são um universo fascinante, embora também possam ser pervertidos na sua utilização. No meu caso e tendo-me servido dele em várias direcções, pessoais, públicas, impessoais, afectivas, contestárias, informativas e reivindicativas, volvido este ano o saldo deste exercício é gratificante... sobretudo pelo inesperado: o facto de ter encontrado amigos por este meio que, inclusive, cheguei a conhecer pessoalmente, quando se propôs um almoço de um dos blogues que eu visito assiduamente. Outros, mesmo que ainda virtuais, são já parcelas que não dispenso nesta casa onde a Amizade é o mote de boas-vindas!
Acreditem, que me sabe tão bem este momento quase diário em que suspendo tudo para vir a este encontro!
Beijo amigo a todos, obrigada!

A FESTA


De volta a casa e ao trabalho, o rescaldo da festa ainda se faz sentir e notar, inclusive, pelo meu desalento,não reposto, devido ao regresso...
O tempo impõe-me a brevidade deste registo e o trabalho que me aguarda clama à minha consciência o devido, mas a minha teimosia afirma-se só pela vontade de o repetir convictamente:
NÃO HÁ FESTA COMO ESTA!!
E que não se pense que esta é uma frase retirada do colectivo, qual eco propagandístico, como já me acusaram. Não! E para isso, desafio quem o contesta a lá ir em anos vindouros.
Para quem nunca lá foi e recusa sequer a hipótese de um dia lá pisar , que imagine o seguinte:
Uma entrada de afã saudável, sem atropelos e com rostos iluminados por convicções, saudada por um grupo musical de jovens de batuques em riste, encorpando desde cedo as emoções que ainda virão. De relance abarca-se todo o espaço, sem o detalhar, e é enorme e grandioso, bem ordenado, onde as pessoas circulam ordeiramente, sem que isso lhes seja imposto.
São tantos os pavilhões temáticos e locais e as ofertas tão variadas, que o difícil é saber por onde começar... No meu caso, e atendendo à minha própria realidade, limitada pelos dois dias em que podia lá ir, e expectativas, delimitei o que faria e onde iria, sem que o plano , porém se cumprisse na íntegra, pois o improviso interveio - e ainda bem!
Circulando pela cidade internacional, uma das metas que traço sempre, a harmonia do encontro com o longínquo afigura-se numa identidade imediata, que confere presença ao interregno de um ano, desde o último encontro. A cultura está patente em cada país, as raízes identitárias de cada lugar, os motivos simbólicos, qual ícones, e a divulgação da luta intrínseca de cada povo. Trocam-se experiências, "arranham-se" outros idiomas e vincamos em cada palavra o sorriso - sempre o SORRISO, tão franco e permanente em todo o recinto, em cada um dos dias, em cada um (sim, cada um!!) dos rostos.
Somos tantos a circular pelas avenidas e a espraiar-se imperceptivelmente em cada lugarejo da nossa escolha. Aos encontrões inevitáveis, ao invés das carrancas soberbas do quotidiano, sobressai um sorriso (sempre o sorriso a testemunhar a festa!) e um franco pedido de desculpas. As filas necessárias para os recintos, são velozes no andamento, e confesso que não concluí se se deve ao prazer imenso de lá estar, que esbate qualquer impaciência da espera, ou se pela tamanha ordenação e disciplina naturais de cada um de nós que as fazem fluir sem cansar.
Difícil é escolher onde comer... as iguarias são tantas e diversas, que a gula desperta e a indecisão inquieta e confunde. Optei pelo Alentejo - o chão imenso do meu afecto - onde os pezinhos de coentrada rapidamente se esgotaram e os torresmos e iscas se impuseram como alternativa à altura. Mas podia ter ido à espetada e bolo do caco da Madeira, à alcatra dos Açores ou ao rancho em Vila Real... Esta festa é um roteiro gastronómico, nacional e internacional, por excelência, acompanhado dos vinhos de cada região.
Ainda não estão convencidos?!
Bom... a oferta cultural é tão vasta que não cabe aqui. Eu mesma limitei-a à feira do livro e a uma exposição de desenhos (onde se expunha, entre outros, desenhos do José Dias Coelho e do Rogério Ribeiro). No recinto do livro , cabem todas as ofertas literárias, debates e lançamentos de livros com assistência presencial de alguns autores. São horas a folhear livros e a resistir estoicamente à tentação de os trazer todos... E há a feira do disco, exposições de ciência, concertos ao vivo com atrações como os "Deolinda" , "A naifa", entre muitos outros, e vários espectáculos de teatro ao longo dos dias. Podia ainda discorrer no espaço para crianças e tantos outros para debates e concertos com grupos menos divulgados... E no café da Amizade, ponto de encontro de eleição, onde se cruzam tantos amigos e se debate a actualidade ou simplesmente a vivência de cada um...
O tempo é parco para a grandiosidade deste local, não só espacial, mas sobretudo humana e, claro, ideológica. E creiam que quem não partilha da ideologia não se sente um estranho entre os demais. É logo "integrado" neste universo excelso da Amizade, que não tem cor, seja ela de que natureza for e as diferenças são elos de encontro e intercepção.
E mais uma vez subscrevo, que não há mesmo festa como esta!

PS- E os cartazes, claro, são consonantes, e muito, muito avante...:)))

05/09/10

"VALE - mesmo - A PENA LUTAR" !!!



Ao fim não terá chegado... para as vítimas é um processo sem fim, uma memória indelével e destruidora de sonhos, de vidas...
Mas de alguma forma a justiça- tão pouco credível e desacreditada numa sociedade onde o capitalismo determina a impunidade a quem tiver mais poder e mais dinheiro - operou e a verdade vingou! A estes jovens foi-lhes restituída a dignidade, a sua honra, a veracidade da sua palavra e talvez, por isso e pelas condenações, alguma paz.
A eles, a quem nunca os desacreditou e se manteve ao seu lado incondicionalmente aos longo destes anos, o meu apreço e gratidão: daqui em diante as crianças deste país estarão mais protegidas e as suas denúncias terão, enfim, eco, repercussões e consequências legais.

"Como é que isto foi possível?! Como é que isto era possível na Casa Pia?!" - Juíza Ana Peres